Preciso me lembrar, todo santo dia, de não me tornar alguém amargo- principalmente no que diz respeito às coisas do futebol. Sim, amigos, a luta diante dos fatos é árdua e a cada etapa, é preciso encará-los, respirar fundo e caminhar.

Explico. Aqui e ali escolho times para torcer. Não para acompanhar a todo o tempo,do início ao fim dos tempos, mas para naquele momento específico do embate, ter uma preferência. Geralmente escolho o mais fraco. Por mais fraco, entendo aquele que ganhou menos ao longo da história, aquele que garante os maiores sofrimentos aos seus adeptos, o que é furtado, assaltado e até mesmo operado pelos homens de preto, o que sempre há de perder aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, num lance duvidoso, em meio a uma vibração intensa de sua torcida. O time pequeno é o verdadeiro sobrevivente do futebol, pois resiste a intermediários malandros, a diretorias inescrupulosas, a um público pífio, com renda tétrica, sem ter suas aventuras bem cantadas nas ondas de transmissão.

Mas por que falo dessa via crúcis futebolística? Vejam vocês o que se passou ontem na final do Campeonato Argentino. Huracán, um dos antigos grandes do futebol, grande campeão da era amadora, somente um título na era profissional, finalmente o Huracán se aproximava de um título, após tortuosos caminhos na segunda divisão. Bastava um empate e a história parecia mágica: mesmo contra um gol erroneamente anulado, contra uma tempestade de granizo, o furacão conseguia seu empate na casa do adversário. O título era seu, até o momento trágico já nos estertores da partida, quando o jogador do Vélez faz a falta e o gol necessário à sua vitória. Pronto, estava encerrada a magia.

Isto é suficiente para minhas tragédias? Não. Basta observar o Campeonato Brasileiro. O time que eu escolhi (ou me escolheu), o São Paulo, decidiu encenar a mais dramática das histórias. Após meses de futebol horrendo, embarcou numa aventura de adaptação que parece mais entediante ainda- é um time sem imaginação, sem vontade, que não transmite a mínima expectativa a quem o vê jogar. Ora, vocês dirão, isto é despeito de quem vê seu time em tragédia.

Não, colegas. Não por isso. Assisto a Libertadores e o que vi foi um Grêmio sem sentido ou direção (i.e., aquele domínio estéril sem chances de vitória) e uma torcida que gritava num castelhano entre o apaixonado, o esquisito e o lamentável- o lamento da torcida, digo. Do mesmo modo, o Internacional não conseguiu oferecer resistência ao sólido Corinthians- e definitivamente, preciso refazer minha impressão sobre Mano Menezes.

Vejo o espetáculo madridista em torno de C. Ronaldo e Kaká e sinto somente a vontade de dormir e esperar que o time comece logo a jogar- algo ressentido, há uma parte de mim que torce para que o time fique em nono lugar, após o Bilbao, Sevilla, La Coruña, Atlético de Madrid, Villareal, Tenerife, Zaragoza e Barcelona (ou quaisquer outros).

E por aí, vai. Fico a me lamentar e torcendo para não me tornar um oitenta-e-doitista, torcendo pela volta de Telê e saudando o tempo de Zico, quando alguma coisa surpreendente podia acontecer- há momentos em que é melhor calar e esperar pela empolgação- essa é a luta contra o ressentimento, o mais daninho vício de personalidade.